Instalação pedagógica do Território Bico de Papagaio discute conflitos no campo

Os participantes da oficina foram convidados a conhecer os cheiros do território do Bico do Papagaio, através dos cestos com amêndoas do coco de babaçu e cupuaçu. Foto: Karol Dias
Os participantes da oficina foram convidados a conhecer os cheiros do território do Bico do Papagaio, através dos cestos com amêndoas do coco de babaçu e cupuaçu. Foto: Karol Dias

Por Karol Dias

“…queremos que plante essa terra, por ela quem sente paixão, quem põe com carinho a semente para alimentar a nação”.

Na manhã do segundo dia do III ENA (Encontro Nacional de Agroecologia), 17 de maio, diálogos em instalações pedagógicas expuseram a realidade e os desafios da agroecologia nos diferentes territórios do Brasil. O Território Bico de Papagaio, Tocantins, conduziu o debate em um desses espaços e teve como protagonistas as mulheres quebradeiras de coco organizadas e organizadoras de espaços, associações, cooperativas e movimentos de resistência ao avanço predatório de grandes empresas sobre a natureza e a vida de suas populações.

No início, os participantes foram convidados a lançar o olhar para a sociobiodiversidade da região através de produtos típicos colocados no centro da sala e, em seguida, perceber, por meio de encenações e falas, a realidade de mulheres que sobrevivem da quebra e beneficiamento do coco babaçu.

Conflitos e direitos

Os conflitos agrários e a contribuição de Padre Josimo, assassinado na luta em defesa do direito à terra para quem nela trabalha, foram trazidos nos seus discursos em tom de homenagem e também de indignação.

Para a quebradeira de coco Emília Alves da Silva Rodrigues, o crime foi uma forma de tentar enfraquecer a luta, mas, ao contrário, “a gente passou a brigar mais pelos nossos direitos”, conta.

A organização de mulheres reafirmando sua força e coragem na reivindicação por Reforma Agrária, educação, saúde e enfrentando o desafio de trabalhar sem uso de agrotóxicos em meio a produtores que utilizam e à empresas que ameaçam sua permanência na terra, foram assuntos de destaque.

Outra questão importante foi a criação da Escola Família Agrícola Padre Josimo, que trabalha a formação de Técnicos em Agroecologia, valorizando o campo enquanto lugar de possibilidades e de construção do bem viver, em contraponto ao êxodo da juventude.

O momento foi também de socializar a realidade de outros territórios, onde diferentes sotaques falaram de problemas semelhantes, tendo por inimigo comum os grandes projetos do agronegócio.

Alternativa pela vida

Assim, no diálogo aberto para a plenária foram trazidos os impactos expansão de canaviais em São Paulo; a desterritorialização de famílias camponesas, quilombolas e indígenas no Mato Grosso do Sul; o monocultivo de eucalipto, a especulação imobiliária, a extração de petróleo no pré-sal, a implantação de unidades de conservação em territórios indígenas, quilombolas e caiçaras, a construção do Mega Porto com mineroduto e distrito industrial  no Rio de Janeiro;  a luta pela terra, contra as siderúrgicas de carvão, a expansão da carcinicultura, instalação de parques eólicos e perímetros irrigados no Ceará; a luta pela demarcação de territórios indígenas no Acre; o monocultivo de dendê no Pará, entre outras.

Por fim, em reflexão a questão norteadora do III ENA: “Por que interessa à sociedade apoiar a agroecologia?”. A plenária respondeu que é “pela vida”, “pela saúde”, “para salvar a humanidade”, “garantir futuro para as novas gerações”, “salvar a mãe terra”, “manter a biodiversidade”, “sustentabilidade” e “bem viver”.

Nesse sentido, houve consenso de que essa é a alternativa ao modelo devastador do sistema de produção capitalista.

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