Entusiasmo e resistência na chegada ao IV ENA

Ao longo desta quinta-feira (31/5), delegações de todos os estados do Brasil ocuparam o Parque Municipal e o Plug Minas, em Belo Horizonte (MG). Atravessando milhares de quilômetros, carregando bagagens e saberes, começaram a chegar os participantes para o IV Encontro Nacional de Agroecologia (IV ENA) cujo lema é Agroecologia e Democracia Unindo Campo e Cidade. Mulheres, homens, jovens, agricultores e agricultoras familiares, povos indígenas, povos tradicionais, quilombolas, reunidos em uma grande construção coletiva da agroecologia no Brasil.

Ao longo de todo o dia, as delegações  realizaram o credenciamento. Foi um momento de encontro, marcado pela troca de abraços, sorrisos e muito entusiasmo. Mesmo com os bloqueios em parte de algumas estradas, com a greve dos caminhoneiros, pessoas de todo país se mobilizaram pra vir a Belo Horizonte. Nos próximos dias,  esses/as lutadores/as da agroecologia vão trocar experiências e informações sobre a prática em diferentes estados, e buscar se fortalecer como projeto político para o Brasil.

Zilma Maximineo veio com a delegação da Paraíba. Ela estava animada para participar do encontro. Mas  a preocupação tomou conta de todo e todas durante o trajeto, devido a falta de desabastecimento de combustíveis. “A gente teve que esperar um pouco a mobilização passar, mas deu tudo certo. E a expectativa é de muito aprendizado e troca”, explica  Zilma.

“A viagem foi cansativa, mas a gente já tá acostumado com as trocas nos encontros e a expectativa é a melhor possível”, diz Rosilene de Oliveira Silva, que veio de Upanema (RN). Ela também estava com grande expectativa para a Plenária das Mulheres programada para a parte da tarde desta quinta-feira.

No Plug Minas, cerca de 50 ônibus chegaram  de todos os estados brasileiros,  especialmente do interior de Minas. A expectativa é que o IV ENA reúna cerca de duas mil pessoas para participarem do Encontro que segue até o próximo domingo, dia 03. O clima no Plug Minas era de animação. Aguardando nas filas, os/as participantes davam o tom da união dos povos do campo, das florestas, das águas com violas, fantoches,   teatro de bonecos e muitas mudas de plantas.

“Nos últimos anos, tivemos vários retrocessos em relação a acesso à terra, a política para cisternas. Políticas públicas foram espremidas. Então este é um momento de luta, de resistência, de estarmos unidos. Os grandes empreendimentos têm o caminho mais facilitado, e a gente acaba tendo que fazer o trabalho de formiga. Mas acho que depois de consolidado, a gente consegue reagir”, afirmou Flávia Cavalcanti, de Itapipoca (CE), que trabalha na Organização Não Governamental (ONG) CETRA, que faz assessoria técnica a agricultores e agricultoras.

A delegação fluminense também chegou bastante animada, com grande presença de mulheres agricultoras. Para Alzemir da Silva Fausto, de Nova Iguaçu (RJ), o espaço é bastante frutífero para a troca de experiências a aprendizagens. “Aqui a gente troca experiência com outros agricultores, conhece políticas públicas, e resiste. Somos lutadoras. Com esse governo atual, estamos passando ‘perrengue’, mas estamos unidas”,  declara Alzemir.  Ela  pratica e gera renda com  a sua produção agroecológica há 14 anos, e orgulha-se de ter educado dois filhos com os recursos das feiras, onde comercializa sua produção.

Minas acolhe o IV ENA

A realização do evento em Belo Horizonte, trouxe muita gente do interior do estado para a capital. Roberto Antônio Lúcio veio de Tumiritinga (MG), por onde passa o Rio Doce, que viveu a maior tragédia ambiental da história do nosso país, com o rompimento da barragem da Samarco e da Vale, em Mariana (MG). Como guardião de sementes crioulas, ele contou as dificuldades que sua comunidade passou a vivenciar após a tragédia.

“A água do Rio Doce ficou tóxica. Tem falta de peixe, a água causa coceira, o número de pessoas adoecendo é maior. A gente recebe dinheiro (indenização) por causa dos danos, mas não é suficiente. Depois da tragédia, perdi muitos tipos de semente, em transferi tudo para outra área. Não vejo mais capivaras, jacarés  e muitos peixes. O rio tem um valor sentimental que nenhum desses órgãos vai ser capaz de repor”, conta Roberto, emocionado.

As haitianas Macdaline Durosier e Marie Lourdes Thelusmas vieram conhecer a agroecologia praticada no Brasil | Foto: Catarina de Angola

O IV Encontro Nacional de Agroecologia também acolheu participantes internacionais. “Estamos aqui para conhecer mais sobre a agroecologia e entender como funcionam os sistemas agroecológicos no Brasil, as metodologias utilizadas, para que possamos entender e ver como reforçar a agroecologia no Haiti”, afirma Macdaline Durosier, da direção sanitária Nordeste do Ministério da Saúde Pública e da População do Haiti. Ela, junto com a também haitiana Marie Lourdes Thelusmas, do Coletivo de Luta Contra a Exclusão Social do Haiti, chegou ontem, 30/05, ao Brasil para participar do IV ENA. Depois elas seguem para Viçosa (MG), para conhecer algumas experiências em agroecologia.

Maicon “Catingueiro” veio da Paraíba. Ele é estudante e compõe um grupo de pesquisa em Agroecologia na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).  Lá, ele apresenta um programa de rádio sobre chamado “Matutando a Agroecologia no rádio”. Maicon veio em uma delegação de 46 pessoas que desejam promover a “geotinta”, que é uma tinta feita de terra. “Catingueiro” também conta que em Campina Grande eles promovem a agroecologia com teatro, utilizando fantoches – é o Teatrinho do Solo.

Esta quinta-feira,31/05,  foi dia de acolher  todos e todas que vieram a  Belo Horizonte vivenciar o IV ENA. Em todos os discursos, o entusiasmo com o momento de fortalecimento político, a alegria do encontro dos/as companheiros/as de outros estados e a defesa de posicionamentos de resistência e esperança. Nas mãos camponesas, quilombolas, indígenas, catingueiros/as, os calos de quem afaga a terra produzir comida saudável e qualidade ambiental. A julgar pela atmosfera da chegada, o evento promete conquistar todos e todas  que constroem no dia a dia o Movimento Agroecológico.

Por Leandro Uchoa e Catarina de Angola

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