I ENA – Um Encontro Nacional para articular iniciativas agroecológicas
O I Encontro Nacional de Agroecologia aconteceu no Rio de Janeiro entre os dias 30 de julho e 02 de agosto de 2002. Sua proposta foi articular as iniciativas do campo da agroecologia que se encontravam espalhadas por todo o Brasil, numa perspectiva de ampliar sua ação e expressão política. O encontro reuniu 1.120 pessoas, sendo 70% agricultoras/es, além de pesquisadoras/es, estudantes, técnicas/os de organizações e 171 entidades da sociedade civil que desenvolviam trabalhos no meio rural brasileiro.
No Brasil, já havia diversas iniciativas de produção agrícola sustentável, com incentivo de organizações da sociedade civil, alguns centros de pesquisa e universidades. Existiam também redes locais de agroecologia, que reuniam sindicatos, associações, pastorais, grupos de mulheres etc. O I ENA foi o espaço para juntar essas experiências para que acontecessem as trocas de saberes e metodologias de trabalho praticadas por organizações, agricultoras e agricultores.
O processo preparatório do I ENA foi iniciado em 2000 e envolveu a realização de reuniões, encontros, feiras, seminários, jornadas e simpósios reunindo movimentos sociais do campo, redes, fóruns, organizações não governamentais, pesquisadoras/es e professoras/es. O propósito foi congregar ideias, opiniões e caminhos que viessem a materializar um evento capaz de dar expressão pública e visibilidade às experiências já existentes.
Nesse processo preparatório, destacou-se um seminário realizado em 2001, reunindo 50 ativistas que atuavam em organizações nacionais, regionais e locais. Foi naquele momento que se definiram os conceitos e a metodologia adotados no ENA. Também se constituiu uma comissão organizadora, com 21 entidades ligadas aos movimentos sociais e sindical, e um núcleo executivo, formado pelo Centro de Tecnologia Alternativa (CTA), pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) e pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.
Nas regiões, formaram-se núcleos de animação que mobilizaram e mapearam as experiências locais de base agroecológica, a partir dos temas mobilizadores elencados no seminário preparatório e das próprias vivências locais. Foi uma ação coletiva para juntar o que estava disperso: as práticas sustentáveis de centenas de famílias agricultoras espalhadas pelo território brasileiro.
O I ENA e as experiências agroecológicas
O Rio de Janeiro sediou, nos quatro dias do encontro sobre agroecologia, uma diversidade de experiências vindas de todo o Brasil. Todas protagonizadas por famílias agricultoras, quilombolas, povos indígenas e demais povos e comunidades tradicionais. Pessoas que, com os seus testemunhos, inspiraram a todas/os as/os presentes.
Uma feira de Saberes e Sabores apresentou uma diversidade de produtos in natura e beneficiados mostrando o que a agroecologia produzia. Também revelou como as famílias desenvolviam sua criatividade para, a cada dia, fazer mais experimentos que promovem segurança alimentar e geração de renda. Outro ponto alto foi a riqueza e a diversidade das sementes crioulas trazidas por agricultoras e agricultores que guardam e protegem suas sementes, heranças de seus ancestrais.
O Encontro Nacional de Agroecologia também foi um espaço de luta, celebração e afirmação de ações transformadoras de espaços físicos e da vida, assim como de denúncia de práticas que degradam a natureza.
Para animar o debate em torno do Brasil agroecológico
A produção agrícola de base agroecológica, os recursos hídricos e sua gestão, a produção de alimentos para a segurança alimentar e para a comercialização, a formação em agroecologia e as estratégias para o desenvolvimento sustentável foram alguns temas que animaram os debates e contribuíram para as análises de contextos locais.
As políticas públicas direcionadas ao meio rural também estiveram em debate, incluindo as ações que contribuíram para o avanço da chamada Revolução Verde — um modelo de desenvolvimento para o campo, baseado em grandes monoculturas, mecanização pesada, uso de sementes “melhoradas” e uso intensivo de adubos químicos e agrotóxicos —, que influenciou políticas de crédito, fomento, escoamento e armazenamento de produção, extensão rural e pesquisa.
Todas essas questões foram pontos de análise e reflexão para a elaboração de propostas e saídas que contribuíssem para a promoção da agroecologia no país.
Na plenária final do encontro, cabe destacar a presença de José Graziano da Silva, representando a candidatura de Lula à presidência da república, que ouviu as reivindicações das/os participantes. Abriu-se ali um caminho de aproximação com o poder público federal, que começou a ser efetivamente traçado quando, a partir de 2003, com o início do governo Lula, foram instituídos e/ou fortalecidos espaços de diálogo entre o governo federal e a sociedade civil e muitas das reivindicações do movimento agroecológico passaram a ser contempladas nas orientações das políticas públicas.
Para fortalecer a agroecologia no Brasil
No final do I ENA, concluiu-se que a transição agroecológica se fazia necessária para que outro desenvolvimento rural fosse possível. Outra constatação foi a de que a agricultura familiar tinha potencial de promover a agroecologia em todo o Brasil. Essas conclusões foram tiradas a partir das experiências retratadas no Encontro, que expressavam a diversificação das atividades agrícolas e de criação de animais e evidenciavam também que o manejo responsável da biodiversidade e dos recursos naturais criava espaços agrícolas produtivos e preservados.
Foram também apontadas algumas proposições para a adoção de um modelo de desenvolvimento sustentável no meio rural brasileiro. Entre elas estavam a criação e o aprimoramento de políticas públicas de base agroecológica voltadas para o campo, incluindo temas como acesso à terra, incentivo à pesquisa, formação, educação ambiental, regularização das terras indígenas e quilombolas e das atividades extrativistas e promoção da agricultura familiar de base agroecológica. Houve ainda propostas para a articulação das experiências de agroecologia já existentes em nosso país e também de multiplicação das feiras agroecológicas, numa perspectiva de dar maior visibilidade à agroecologia.
Um outro grande resultado do I ENA foi a criação da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), que nasceu nesse caldeirão de experiências criativas e geradoras de proposições para um Brasil ecológico e sustentável.
O Seminário de Agricultura Familiar e Agroecologia no Rio de Janeiro discutirá em dois de julho de 2002 na UERJ o desenvolvimento da agricultura familiar fluminense em bases agroecológicas e as sugestões do estado para o evento nacional. “A agricultura familiar depende no Rio de Janeiro de um projeto de reforma agrária em bases agroecológicas, […]
Uma roda de conversa sobre o 1º Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que aconteceu em 2002.
Live realizada no dia 21/10/2021 com a participação da Roda de Choro com o Grupo Barbantinho Cheiroso e as participações de Braulino Caetano, Maristela Ferro, Maria Emília Pacheco, Sílvio Almeida e Eugênio Ferrari, com moderação de Flavia Londres.