III ENA

Antes do Encontro, caravanas nos territórios e muito mais

O seminário que convocou o III ENA aconteceu no estado de Goiás no final de 2012. Representantes de organizações da sociedade civil, universidades, movimentos sociais e sindicais discutiram o contexto sociopolítico do Brasil, construíram consensos e pensaram propostas para preparação para o próximo Encontro Nacional.

Na fase que antecede ao evento, as Caravanas Agroecológicas e Culturais foram a grande inovação metodológica. Elas mobilizaram mais de 2,5 mil pessoas e percorreram 12 territórios de todas regiões do País para conhecer in loco as experiências agroecológicas. A proposta era fazer a leitura do contexto político e ambiental onde estão inseridas as experiências e como elas transformavam a vida das pessoas e a realidade local.

Houve também uma caravana temática, a das juventudes, que se organizaram para pautar no III ENA as suas demandas no campo da agroecologia.

As caravanas promoveram momentos ricos de intercâmbios e possibilitaram também que as/os protagonistas locais aprofundassem ainda mais a reflexão sobre os desafios e possibilidades do território e de suas próprias experiências. Foi muito evidenciada a capacidade de resistência das famílias, coletivos e comunidades que levam a cabo a agroecologia frente as ameaças do agronegócio.

Atos públicos, feiras, teatro, música e outras expressões culturais marcaram a passagem das Caravanas Agroecológica e Cultural nos territórios, chamando a atenção e despertando o interesse de quem vive no meio urbano. Materiais de comunicação também foram produzidos e distribuídos para as caravanas, propagando as experiências para além do momento das visitas.

A preparação do III ENA tive dois momentos que articularam comunicadoras/es populares e as mulheres de todo o país: a Oficina de Comunicação e o Seminário de Mulheres.

O que aconteceu no III ENA

Tanto para as Caravanas quanto para o III ENA, havia eixos orientadores das análises, debates e construção de conhecimentos: posse da terra e direito aos territórios; soberania e segurança alimentar e nutricional; proteção, manejo e conservação dos recursos naturais; economia e trabalho; mercados; identidades e cidadania; questões socio-organizativas; conflitos e políticas públicas.

O formato do III ENA seguiu trazendo inovações. As 15 instalações pedagógicas permitiram a imersão, a partir de vários sentidos, nos territórios agroecológicos. E a facilitação gráfica deu suporte visual para as/os participantes acompanharem os debates, além de conferir ao ambiente um ar de graça e beleza com seus desenhos coloridos.

A programação do evento foi bem diversificada: plenárias, seminários temáticos e oficinas autogestionadas, um painel internacional e quatro atos públicos, um deles na ponte que liga Juazeiro, na Bahia, a Petrolina, em Pernambuco.

Na plenária final, foram lidas nove moções de apoio às lutas da agricultura familiar, em defesa de direitos e em repúdio ao agronegócio. A Carta Política do Encontro também foi lida e aprovada por aclamação, tendo sido entregue ao ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República, que participava pela segunda vez do ENA.

Escrita a partir das reflexões dos seminários, plenárias e oficinas, a Carta afirma que não há agroecologia sem a democratização da terra e defende a reforma agrária, assim como o reconhecimento dos territórios indígenas e das comunidades tradicionais.

No documento final, reafirma-se que o uso de agrotóxicos no Brasil é insustentável e traz sérios danos à saúde pública. Nele, está dito que a agroecologia não existe onde há conflitos e injustiça ambiental e que se faz urgente proteger e preservar a sociobiodiversidade. A carta também defende uma educação contextualizada do campo e a união entre ensino e pesquisa, tendo em vista a construção de uma assistência técnica e extensão rural de qualidade.

O encontro chegou ao fim nas margens do São Francisco, pedindo bênçãos ao grande rio que percorre o Nordeste e tem sido sucessivamente agredido pela exploração predatória de suas águas.