ENA - Encontro Nacional de Agroecologia
Movimento Agroecológico de Mulheres faz ocupação relâmpago no escritório da Embrapa em Petrolina
Por Laudenice Oliveira, do Centro Sabiá


Cerca de 300 mulheres camponesas, quilombolas, ribeirinhas, indígenas e quebradeiras de coco que estão participando do III Encontro Nacional de Agroecologia (III ENA), em Juazeiro da Bahia, ocuparam na manhã segunda-feira ( 19), o escritório de apoio da Embrapa em Petrolina, Pernambuco.
Simbolicamente elas inauguraram a Embrapa Agroecológica, num ato de reivindicação para que a empresa de pesquisa trabalhe dentro de uma perspectiva de produção de alimentos saudáveis e diversificados. Elas também denunciaram a falta de políticas públicas voltadas para as mulheres camponesas e entregaram uma carta de reivindicações para o chefe-geral do Centro de Pesquisa Agropecuária do Semiárido, Pedro Carlos Gama, para que o mesmo a encaminhe ao presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes.
A representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST), do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, Maria Aparecida Alves, disse que o momento também era para denunciar as diversas formas de violência que as mulheres do campo sofrem. “Nós estamos aqui para denunciar e para dizer que não somos sujeitos para aceitar o que a Embrapa faz. Nós queremos a riqueza da agroecologia, assim como as camponesas tenham terra e água para produzir”, reivindica ela. Para Neneide Lima, da Marcha Mundial das Mulheres, é necessário que a Embrapa volte os olhos para os quintais das mulheres. “Porque nos nossos quintais existe agroecologia, existe cultura. É nesse quintal que alimentamos nossa família, nossa cidade. Não queremos padronização de alimentos, queremos diversidade, soberania alimentar”, sentencia.


A representante do Movimento de Mulheres Campesinas, Noemi Krefta, cobrou que a Embrapa cumpra o seu papel de empresa pública. “Este momento é muito importante na vida das mulheres do campo. Queremos frisar para Embrapa que ela precisa cumprir o que tem nos seus documentos e que nós mulheres do campo devemos lutar pelo nosso direito de produzir alimentos saudáveis e diversificados. Não queremos que o agronegócio invada nossos quintais. E digo que não há possibilidade de coexistir dois tipos de agricultura neste país, nem no mundo. A agroecologia é o nosso projeto de agricultura”.
De acordo com Bete Cardoso, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o ato foi um sucesso. “Nós inauguramos a Embrapa Agroecológica, entregamos o nosso documento ao representante da Embrapa com todas as nossas reivindicações. A Embrapa é uma empresa pública que precisa trabalhar pela maioria da população e a maioria da população do campo não é do agronegócio. A maioria da população do campo é de agricultura familiar e de agricultura agroecológica”, enfatiza.
Para a sindicalista e assentada de Camamu, Bahia, Maria Andrelice dos Santos, o momento foi oportuno para se fazer essa ação de ocupação relâmpago da Embrapa. “A gente não podia deixar passar, a gente precisa tá aproveitando esses momentos porque a gente tem as nossas inquietações com esse centro de pesquisa, do jeito que ele vem sendo aplicado para a agricultura familiar, especialmente pras mulheres agroecológicas, do campo e de outros assentamentos”, avalia.
O chefe-geral da Embrapa em Petrolina, Pedro Grama, disse ao receber o documento com as reivindicações das mulheres que a Embrapa local tem feito um esforço para apoiar a pesquisa de base agroecológica. “Certamente, essas reivindicações casam bem com o esforço que estamos fazendo. Já temos vários pesquisadores que têm abraçado essa causa e incorporado essa preocupação nas suas pesquisas. Vou pegar o documento de vocês e encaminhar com a maior celeridade possível”, comprometeu-se.
Para quem veio de longe como a agricultora urbana do Rio de Janeiro, Margarida Sobrinho, o momento foi importante. “Eu gostei muito, pelo menos a gente fez barulho pra vê se muda essa realidade, eles precisam disso. Pra gente comer bem a gente precisa plantar alimento que nos dê saúde”, finaliza. As mulheres fizeram uma grande ciranda antes de saírem das dependências da Embrapa em caravana para fazer a ocupação da ponte que liga Petrolina a Juazeiro.
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