II ENA

O processo preparatório

Para construir o II ENA, foi organizado um processo preparatório que teve como estratégia o mapeamento das experiências agroecológicas enraizadas em todo o país. A Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), que nasceu do I ENA, realizou estudos e estimulou a organização de mutirões para fazer a identificação dessas experiências.

Essa força-tarefa envolveu diversas pessoas organizadas em grupos de produção, sindicatos rurais, cooperativas, associações e organizações não governamentais. Em um período de 40 dias, cerca de mil experiências foram identificadas. Em todos os estados brasileiros se identificou, no meio rural, a produção familiar convivendo harmonicamente com a natureza, gerando alimentos saudáveis e renda para as famílias do campo.

Encontros locais, estaduais e regionais marcaram o processo preparatório do II ENA, o que fomentou uma rica troca de conhecimentos. Esses encontros também foram espaços de análise e denúncias do modo de operar do agronegócio, que se instala nas regiões, expropria os recursos naturais e explora à exaustão as trabalhadoras e os trabalhadores.

Os debates que animaram o II ENA

O II ENA proporcionou a socialização dos conhecimentos construídos e apreendidos no seu processo preparatório. Seis grandes temas guiaram os debates nas plenárias, oficinas e seminários construídos a partir das experiências de agricultoras e agricultores: direitos territoriais e reforma agrária; segurança e soberania alimentar e nutricional; conservação e uso dos recursos naturais e da biodiversidade; construção do conhecimento agroecológico; formas de financiamento, gestão social de desenvolvimento e relação com os mercados.

Um estudo sobre os impactos do agronegócio no meio rural brasileiro também serviu para animar os debates. O estudo evidenciou o quanto esse modelo de desenvolvimento degrada o meio ambiente, ao utilizar agroquímicos e agrotóxicos nocivos à saúde da população, além do desmatamento e dos monocultivos em extensas áreas.

Além desse olhar para as experiências inovadoras e propulsoras de uma agricultura sustentável, as pessoas que participaram do Encontro elaboraram sínteses críticas ao modelo hegemônico, que serviram como sustentação para a formulação de um projeto de desenvolvimento baseado na agroecologia e na produção familiar.

Três plenárias contribuíram fortemente para o amadurecimento dos temas mais impactantes do II ENA. Na primeira, sobre a construção da agroecologia, houve a apresentação do estudo “Mapa das Expressões Agroecológicas” e de experiências de algumas agricultoras e agricultores.

A segunda plenária teve o agronegócio como foco, fazendo a denúncia desse modelo e discutindo ideias e propostas para o seu enfrentamento. A terceira plenária foi a de encerramento, na qual foi lida e aprovada a Carta Política do II ENA. Nesse documento, estão expressas análises e propostas para promover a agroecologia no Brasil.

Manifestação pública e atividades culturais

A feira de Saberes e Sabores foi o espaço onde agricultoras e agricultores deram mais visibilidade à sua produção agrícola e aos seus experimentos. Uma variedade de produtos in natura e beneficiados foi oferecida à população que prestigiou as atividades públicas.

Experimentos como minhocários e protótipos de cisternas de placa para captação de água da chuva, além de muitos outros, estiveram à disposição de interessadas/os nas tecnologias, apresentando respostas para a superação das dificuldades encontradas pelas famílias agricultoras.

Uma rádio alternativa esteve em funcionamento na feira para que participantes e convidadas/os pudessem fazer o uso da fala, contar histórias, cantar, declamar poesias ou tocar instrumentos. Era um espaço democrático para a cultura ali presente.

Não faltaram manifestações culturais locais e de outras regiões. A feira de sementes mostrou, mais uma vez, a riqueza e a diversidade de sementes crioulas que o Brasil tem. Trocas, doações e vendas deram o tom do espaço, sempre muito atrativo para as/os participantes.

Nesta edição, a agroecologia também estava na tela de um cine montado no evento e nas páginas dos livros lançados pelas instituições presentes. E o povo que estava reunido no campus da Universidade Federal de Pernambuco, durante três dias, ocupou o centro da capital pernambucana, realizando uma manifestação em prol da alimentação saudável e da preservação dos bens naturais e da Mãe Terra. O espaço público virou palco de uma grande ciranda. De mãos dadas e em círculo, participantes de todos os cantos do Brasil dançaram, cantaram e festejaram o II ENA.

A carta política

Neste documento, as organizações presentes propuseram unidade no campo agroecológico. “Além de expressar os pontos de unidade que referenciam e dinamizam a Articulação Nacional de Agroecologia, ela (a carta) está destinada também a alimentar a produção de experiências, debates e conhecimentos que inspirem o fortalecimento e a construção de novas unidades de ‘campo agroecológico’”, afirma um trecho do documento.